A chuva tem medo de pingar
Quando a gravidade não quer abraçar
A chuva tem medo de escorrer
Quando a tez queima para poder ser
Imersa nas águas vazias
Queimam a pele por estar fria
A chuva não quer chover
Engolindo vergonhas que não podem nascer
A chuva canta quieta
Busca aconchego
Oceano vivo e intenso
Pia nas ondas internas
Não se desaflore pela dor
Quem não colhe apodrece no tempo
Muitos não buscam relento
Esquecidos nos vales do rancor
Disse a chuva para mim
Sua história que me emocionou
Início, meio e fim
Cantou e cantou
Notas que afloram jasmim
As águas clamam pelo riacho
Que desaguam como asas para os pássaros
As rochas choram quando passam
Não se engane, pois a tristeza não se vê deste lado
Externo fala o que não lhe é próprio
Bem-te-vi fala bem seu opróbrio
A chuva sabe quando quer cair
Deixe que desabe para poder porvir
Alto e baixo, escuro e claro
Só as vezes então se faz necessário
Deixar que um vença para que rasgue o imaginário
Quem tem medo da chuva?
Ela vem para tornar alma pura
Acrisola o mal que obstrui
Assola o ardor que rui
Ela mesma tem medo de si
O que pode carregar suas águas?
O medo é um sentimento fraco
Fragilidade não se encontra em alma casta
A vida quando sente o cheiro da chuva aflora a primavera
A vida que por mais esquecida no tempo ainda faísca na ponta da vela
A vida é o que é
Própria da existência eterna
A vida que morta está
Mortificada pelos ponteiros
Que assim quando a ampulheta acabar
O coração se verá por inteiro
Então chova chuva
Para que desabroche os lírios do campo
Que renasça ternura
E tudo que há de mais belo no chorar por encanto
Por Luiza Campos