Coração gordo, por muito tempo calado, come as mágoas, os contos falsos, vive do tempo passado. Por onde andam seus passos? Qual história contam seus rastros? Um moinho não traça caminho, como um coração preguiçoso, flutua como pena no ar, onde o vento vai te levar? São terras desconhecidas, assim como seu universo, não conhece seu bombear, corre das águas com medo de se afogar. Coração gordo, por muito tempo calado, disse o poeta, engoliu tantas dores, que hoje já não sabe mais como parar, sua fome não sacia, e sua pele cada vez mais larga, não sabe como se proteger, não conhece uma saída. Ah! Vida, onde esteve? Ela está sempre sozinha, observando até quando esta alma vai aguentar, será que vai muito longe? Pobre coração, encheu-se com o vazio, perdeu seu olhar para o nada, infelizmente, se perdeu também, seu caminho inconsistente, um tempo impaciente, gira e gira sem parar, onde isto vai dar? Não há o que fazer, a não ser mudar, suas ondas furiosas cobrem sua terra, não fertiliza, mas afoga, os rastros não contam mais nada, o que há nesta casa? Teto de vidro e base de areia, um deserto vivo, faminto como sua ampulheta, pingaram os dias, juntamente com sua sina, profetiza seu futuro por suas escolhas em vida, já não cansou de ser assim? Muita tristeza e muito ardor, não cabe mais, sua garganta embargada, sua voz pausada, não há mais ombro que carregue, um peso desnecessário, sentimentos imaginários, um dia, como tudo, encontrará seu fim. Mergulhou no raso, colidiu com o chão, por isso enlouqueceu, por ser fútil demais para uma imensidão. Pobre coração gordo, engodou-se de laços finos, e quando mais precisou deles o nó estourou.
Por Luiza Campos