As folhas pelo tempo passam e mudam suas cores, e ao desvencilhar-se da vida, enfeitam o solo e ensinam que o renovo há de vir junto à esperança. Os ventos as levam e as trazem por suas mãos e ação dos ponteiros as descolorem, e assim é contada sua história, entre as folhas, entre páginas que são foleadas com os dedos, molhadas à saliva, enquanto rolam, se veem rascunhos perdidos, olhares distantes. Os pés que resvalam cambaleiam entre a vida e a morte. Amam a vida, mas desconhecem-na, desprezam a morte, mas andam de mãos dadas a ela. A justiça própria está vendada porque ela não quer ser justa, então suas folhas ficam marcadas pela injustiça. Não se trata de um livro de capa dura, mas de cabeça, porque colocou-se num lugar alto, onde só lhe cabe abraçado com a soberba, não há espaço para a humildade, quiçá o amor possa se assentar. As estações já não são mais as mesmas, não há o que equalizar.
Entre as folhas, entrelinhas se diz muito, mas quem lê? Porque a leitura é invisível, perceptível, inconfundível. É preciso amar no silêncio e o silêncio, mergulhar no próprio universo, pôr-se ao inverso, caminhar ao reverso para se fazer verso, uma estrofe que conta a sabedoria, que mostra como se metamorfoseia, na prática. Um lugar de sentimento sentido, vivido, um calor que o faz derretido para que crie asas. Entre as folhas se vão o medo e se escreve seu nome no livro da vida, se vai o enredo fictício e traz sua história infinda, uma sinopse que envolve por toda eternidade.
Entre as folhas secas ao chão se ouve os passos que seguem a vida, porque o que morre deve ser pisado, mas sempre deixará uma lição, que suas folhas em brancura se torne lugar de escrita, onde o Autor da vida possa autografar Seu nome o Eu Sou.
Por Patrícia Campos