O momento da decisão, crer naquilo que queremos é simples, mas crer na verdade é para poucos. Sacrificar o filho da vizinha não é uma tarefa difícil, mas sacrificar o próprio filho pela verdade, quem acredita nela? Abraão, homem simples, casado com a sua meia irmã Sara, no qual a amava extremamente, não podia ter filhos com ela, pois ela era estéril, e tal era a frustração de Abraão, que a própria Sara o induziu a ter um filho com Agar sua serva, mas não era a mesma coisa, pois ele não amava Agar, e Ismael era o filho da sua frustração, tanto que não se fala de nenhuma ligação entre Abraão e Ismael, o filho da escrava. Mas vendo a frustração de Abraão, Deus lhe promete um filho com Sara, dizendo: este será o teu herdeiro Abraão, o filho das entranhas do seu desejo. E Abraão não atentou para o ventre apodrecido de Sara, que até então já era velha e não podia mais ter filhos, mas Abraão acreditou naquele que lhe prometera, e assim Abraão coabitou com Sara e ela se engravidou, e nasceu Isaque, o filho da promessa de Deus, o filho do desejo de Abraão.
Ali estava a sua verdadeira descendência, o menino nasceu e Abraão o amava extremamente. Imagine como ele brincava com o filho, como ele tratava o filho da sua amada, com quem ele tinha uma ligação muito forte. Ele via no filho o fruto do seu amor, ninguém poderia lhe tocar. Mas se diz que Deus provou Abraão, dizendo: Abraão, sabe este teu filho que você ama de verdade e o considera como único filho? Vá a um dos montes de Moriá e o ofereça em sacrifício a mim, o filho do teu ventre. Neste ponto me lembro de um pensamento que tive, e que é verdadeiro do meu coração, pois pensava; se eu tiver que enfrentar os infernos por amor a Deus, eu não pensaria duas vezes e lá no vazio, estaria feliz se esta fosse a vontade de Deus. Foi o mesmo sentimento que Abraão teve, pegou o filho e levou num dos montes de Moriá, levantou o altar, colocou as lenhas, vedou os olhos do filho, pegou o cutelo, e o único que impediu o intento de Abraão foi o próprio Deus, que segurou pela sua mão e disse: Abraão não faça mal ao garoto, pois agora sei que tu me amas de verdade, pois não negaste nem o seu próprio filho que amas de verdade, o teu único filho.
Quem sacrificaria o próprio filho que ama por amor a Deus? Que tipo de ligação a tua consciência tem com Deus, matar o filho não é propriamente sacrificá-lo, mas é se desligar dele como a tua consciência é desligada do filho do vizinho, como quem diz: o pobrezinho morreu? Por isso eu digo: matar o filho da vizinha na tua consciência é simples, mas matar o próprio filho, é para bem poucos.
Por O teu espírito diz