Por um momento avistei-me ilha, infinitos grãos de areia me permeiam e eu aguardando as ondas deste mar de amor me cobrirem. Quiçá o sol não seja apenas meu teto, mas que aqueça meu imo, não só por escaldar-me em fornalha, mas para tornar-se minha luz perpétua, porque aquele que ainda vislumbra o clarão do luar sente-se vivo, mesmo sabendo que um dia talvez não o veja mais, este simplório luar, nem o esperado sol, nem mesmo terá a sensação de avistar-se ilha. Meus olhos desejam a luz, para que as trevas não apanhem meu calcanhar. Este meu calcanhar de Aquiles deve ser pisado por meus próprios pés. Que minha boca sinta o sabor do alcaçuz, e que prove também das águas do estuário, onde minhas lágrimas sejam diluídas em águas doces. Permaneço em minha pequena ilha enxergando o horizonte à frente, não serei engolida por águas tempestuosas que de todo modo tentam me afogar. Que as águas puras mostrem de fato por sua transparência quem sou e como sou, quero tornar-me como elas. E que meus tímpanos captem apenas o som agradável para que meu coração se torne incontaminável, o que agrada é a verdade, mesmo que seja nua e crua ela pode ser digerida pela sabedoria, e o que é amargo torna-se doce ao paladar do sábio.
Quero voltar-me sempre para o centro de mim mesma, porque o que há lá fora não me pertence, é aqui dentro que devo voltar-me, aos símplices voltem-se para cá, para aqui, para dentro de si, e permaneça, até encontrar-se em pureza.
Patrícia Campos