Acenei para meu espelho, que consentiu com a cabeça, senti-me só, mas não em solidão, dando o sorriso mais sincero que poderia dar, senti-me feliz dentro do meu próprio coração. As órbitas seriam solitárias sem a presença dos planetas, e ambos sós, mas com a morada um do outro. Vi que mesmo ao lado de olhos eternos o meu não se tornaria, o que brota deve vingar em meu ventre e não por alguém que já o teria, a guerra se trava em cada peito, tornando o âmago um campo de batalha, individualidade de cada sujeito, universos singulares, tons distintos de marés. E toda minha grandiosidade se acaba dentro de outro infinito, que se estende em sua própria eternidade, cada qual com sua dor, unicamente com suas vitórias e derrotas, desejos e ensejos, amores perdidos e pedaços encontrados. Histórias e mais histórias, indivíduos com seus respectivos interesses, unicamente seus. Não há mais sinônimos para dizer que a trajetória da vida se dá individualmente, e cada escolha afeta apenas aquele que as acata para si, agora, vendo com os olhos daquele que me deu a vida, enxergo que sua intenção era sua, e não daqueles que se pôs tanta esperança, e cada história amontoada, não em livros de contos de fadas, mas sim nas veracidades dos dias, chove com as lágrimas do céu, que se escorrem em seus deslizes e se perdem em suas tristezas, por ter bebido tanta liberdade que pesou seu estômago e penou suas asas, não tendo-a mais em leveza, todavia queimada foi sua essência, transformando-se na árdua libertinagem, que todo limite ultrapassado se paga com a sanidade de sua alma. Escrevo então hoje minha individualidade, minha visão, poetizo meus rastros vivos, desbravando todo ponto de cada intenção, e busco tornar-me inteiramente refém da liberdade, que dê-me seus limites para que pluma torna-se minhas ações, e que pura façam minhas asas, enxergando e agindo conforme o coração dos céus, e que as chuvas não sejam as lágrimas, mas que agora se tornem palavras, lavando e levando toda impureza de meu íntimo, afogando toda raiz mal firmada, e alimentando os laços que bons frutos darão para meus olhos, enchendo minha íris de prazer, que se exulta pelos extremos de meu imo. Enfim, individual, no fim, somos nós e a porção do transcendental.
Por Luiza Campos