Lençol de sua nudez

Eu te via nas ruas, e olha só para você agora, sem tempo, parada e nua, desconhecida para meu filho e pela primeira vez, sóbria. Eu te via nos becos, sem casa, sem leito, eu te via de longe, mas não havia jeito, já estava jogada ao vento, e deixava seu destino em suas mãos, sujou o santo templo, deitou-se na escuridão. Seu manto, um lençol, seu campo sem girassol, seus braços, sem abraços, seus laços, escassos, uma moça sem virtude, escolhas indevidas, não conhecia solitude, mas em solidão eram suas noites mal dormidas. Sentia frio, mas não se importava, andava sem rumo em lugares vazios, buscava e buscava algo, mas não achava, o que queria tanto, que não encontrava? Nem mesmo ela sabia, talvez a paz, talvez sabedoria, mas quiçá seus rastros eram apenas por estar viva. E nestes tempos e em todos os outros havia alguém, uma luz guia, mas à ele estava aquém, não dando importância, nem a própria vida, como poderia? Nem eu explicaria. Tudo estava perfeito, era apenas olhar para o céu e encontrar sua estrela divina, mas nada feito, cobriu-se com seus lençóis encontrados nas esquinas, e continuou seguindo sua história como se fosse sua sina, eu sei a dor que passou, mas a mesma foi escolhida, havia uma porta que não achou, entretanto por vezes sabia que existia, e por quê? Por que não fugiu? Agora te vejo aqui, parada em minha frente, implorando por um perdão que nem mesmo você sente, eu não posso mudar seu tino, você mesma escolheu seu caminho, triste, mas escolheu, poderia plantar girassol, mas colheu espinhos, o que dizer a você? Não tenho nada, o lençol envelheceu e queimou, sobrou apenas suas vergonhas que acumulou, não tenho nada para você, nem mesmo uma palavra de aconchego, você poderia ser, mas escolheu agir sem destreza e sem freio, não sou nenhum vilão, mas sou o juiz que julga sua ação, redundante não? Mas você mesma já condenou seu coração, quem Sou Eu nesta história? Deveria ser Eu Sou, mas preferiu a solidão. Procura o quê? O lençol de sua nudez? Não, não, agora procura a saída de um destino que já se fez.

 

Por Luiza Campos

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