No ateliê

Vestida de humildade, trazia à boca linha e agulha, no peito a simplicidade e no olhar a ponte de atravessar agruras. Entre muitas ideias sábias, confeccionava esperança, quiçá pudesse revestir as almas e trazer em seus olhares temperança. Confinada em sua oficina cuidadosamente trazia à sua obra, vida! Estilista peregrina, em cada cidade que passava deixava a marca de sua obra prima. Realizando pontos de amor, e viés bem reforçados, na barra bordava a flor, era mesmo um coração esforçado. Em cada olhar observado, conhecia a dor que carregava, manto bem elaborado, a tristeza cortava a navalha, levando sempre uma boa roupagem, para todo àquele que não queria ser achado nu, tecidos novos de rica linhagem, e o velho em coloração cru incitava-lhes a rasgar para dar vida a nova vestimenta, tirando medidas em minuciosos detalhes, porque em vestido novo não se pode haver emendas.

Remendos são visíveis e tiram toda a beleza, aos olhos alfaiate são totalmente perceptíveis e é exatamente neste ponto que denotam a sua fraqueza. E assim seguia no ateliê, confeccionando tudo o que pensava ser bom, aos simples que ali vinham para comprar e vender, sem dinheiro e sem preço levavam um pouco do seu simplório dom, que era transformar o visual dos simples, das lagartas que almejavam metamorfosear, fazia brilhar os olhos dos humildes, os quais com amor conseguiam se encontrar. Porém, cuidou tanto dos outros que se esqueceu de olhar para si mesma, confeccionou pensamentos entre abrolhos e desvestiu a própria consciência. Ao invés de arrematar-se em linha reta, confundiu-se o alinhamento dos caminhos, traçou no coração sua própria meta, não desenhou o esboço eterno em pergaminhos. Quem tanto ajudou cobrir as almas para deixá-las aquecidas, esqueceu-se de cuidar da própria alma e por falta de amor foi ficando enfraquecida.

 

Por Patrícia Campos

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