Piar do passarinho

Ouvi seu piar, mesmo em meio aos gritos do mundo, dançou com as nuvens e voou por entre o infinito, era bem-te-vi que bem me olhava do alto, era quero-quero que desejava minh’alma, era um pássaro belo que cantava e trazia calma, era o próprio esmero de um tempo sem alva. Sútil pousou sobre o tronco, olhou em meus olhos e cantarolou, vinha de seu alcantil que goteja paz, bordava alegria em seu traçar, suas asas contavam a história da liberdade e cada ponto de sua verdade. Diz-me canto doce, até quando irá piar? Seu entoar pausou e disse: até quando o céu me guiar. Embeleza os campos, veio de Deus, um passarinho livre, um tom do que é meu, tudo há de ter clareza para entender sua vinda, traz consigo pureza, mas quem não dança se perde na valsa da ruína. Hoje voa, como uma criança correndo, hoje entoa no peito vivo, corda bamba onde pisam, se voar para longe não haverá mais riso, hoje ainda há luz, quem se contenta com a ação futura não muda, pois ainda há ampulheta, mas um dia não terá mais quem a conduza.

Digo a ti, pássaro celeste, fique aqui e do céu traga minhas vestes, sou peregrina sendo o próprio lar, então habite onde poderá sempre pousar, descanse em meus galhos e reflita em minhas águas, seja pássaro amado, com todo meu amor lhe transbordo em cascata, seja luz de meu infinito, e a chave para meu amanhecer, és vivo seu assobio e floresce sapiência ao nascer, és casto, puro como ouro, teu conhecimento vasto, me permite voar um pouco? Como pode o mundo não ver, esquecer da vida que pulsa? O pássaro tão belo vive em toda curva, cada canto há seu canto que entoa nas alturas, quem esquece de sua ação torna-se uma alma turva, e como vencer a guerra sem saber que está na luta? Não há chão, mas ao invés de voarem caem do precipício, têm asas, mas não conhecem sua vastidão, como pode a simetria do pássaro livre ser presa na escuridão?

 

Por Luiza Campos

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