Saí e não voltei, por isso não me encontrei, fui descalço, não calcei, e por onde caminhei? Sem rumo, sem tino, sem lume, sem brilho. Onde deixei minha casa? Como deixei minha casa? Nunca deixei minha casca, não serei borboleta, permaneço obsoleta, antiquada, do meu passado fiz um antiquário onde guardo meus retratos, posando com sorrisos largos, sem laços, permiti tantas mobílias, dor em dor, sílaba a sílaba, uma verdade escondida, muitas angústias, muitas feridas. Preciso voltar para casa, para casar, preciso voltar, me aliançar com o infinito, derrubar as paredes que não ouviram meus gritos, meu socorro perdido deixando meu peito aflito. Quem tem culpa por eu ter me abandonado? Sou eu quem sou o culpado, corri de mim mesmo deixando meu amor quebrantado. Quebrei a cabeça, senti a sentença, a estrada à voltar é a mesma, a história à contar não se cabe em uma resma. Foi triste, foi, mas não posso ficar aqui, só, àquele que se ama, insiste, não quero que me tenham dó. O amor quebra as barreiras do engano, as quais foram edificadas pela incompreensão, não foram um ou dois momentos insanos, mas uma trajetória rabiscada em ilusão. Um momento de sanidade e a busca por mim passou a progredir, o espelhar da verdade, faz o sal do meu mar expelir, arde a tez, queima o coração, faíscas de sensatez traz a sensação da transformação, e a alacridade dá o ar de sua graça, de graça, porque não há valor estimado quando se recebe com amor a verdade, quando a intenção de correção é de fato o desejo da alma que busca por sua liberdade. Podem voltar-se, serás muito bem recebido, veja quem és de verdade, a vida é o sentido, e tudo o que podemos ser, viver, vai depender do querer, a busca é interna e a vida para quem a deseja, pode sim, ser eterna.
Por Patrícia Campos