Não estou sozinha, nunca estive, uma tênue linha entre a razão e minhas crises. Quem são seus demônios? Me perguntaram, e para falar a verdade eu não sei, apenas entendo que os tenho. Ouço as vozes de dores passadas, adentram em meu âmago, machucam meu coração, ouço o tempo acabando, as notas desafinando, o pulsar se findando, neste pó sou finita, nesta carne maldita, neste raso não sou preenchida, uma rosa despida. Andando pela rua, com os gritos em minha alma, freei por um curto período de tempo, e notei, notei os olhares flutuantes, um salgar seco, um soluço quieto, notei a loucura do mundo, os peitos incertos, viajantes sem rumo, notei as luzes se apagando, a noite correndo, o silêncio chegando, notei que a paz mora comigo e com todos os outros, mas o que não vemos foi esquecido e o que não percebemos é precipício. Neste momento, muitas coisas me passaram, desde as dores até a graça dos dias, mas nada me foi mais esclarecedor do que olhar nos olhos daqueles que repetem minha vida, quem poderia ser feliz assim? Carregando seus pecados, agravando suas feridas, e acompanhado de seus demônios, quem poderia ser feliz? A boca emite um riso, os olhos pedem socorro, os lábios clamam a vida, mas em suas cabeças pousam o martelo do corvo, quem poderia ser feliz? Alguém escuta meus pensamentos? Perdida no limbo do tempo, percebi que perdi minha rota, minha rotina não parou neste lamento, por um resquício lembrei, mas como um relâmpago se foi. Quem enterra seus demônios enterra a ti mesmo? Já se tornaram tão intrínsecos que esqueceram de separar e criar seus enredos, mas escreveram as mesmas linhas tortas, os mesmos laços de papel, e as mesmas aflições porcas. Eu não saberia dizer o porquê que aceitaram este roteiro, mas sei que seguem este teatro como se fosse o tiro certeiro, porém quando refletem-se no espelho percebem, plantaram e cuidaram de seus próprios medos.
Por Luiza Campos