Entrei-me e a luz que ali estava me tirou toda e qualquer maquiagem, vi-me crua, um espelho sem máscaras, sem disfarce. É aqui que mora a verdade? Me dê uma dose! Bebo e percebo que o gosto do fel nem sempre é amargo, depende da lente, horas traz doce a vida. Uma dose não é o suficiente, mas é preciso de forma minuciosa sentir cada gota à saliva. A verdade queima, e ao mesmo tempo refrigera, ela nos faz prender-se à ela com a verdadeira liberdade. Metaforicamente é tempestade que cai dentro do meu poço inverso, chegando a transbordar minha alma. Ela me faz descer, me deixa ao lado da humildade, me põe no colo da esperança, quiçá aprendo alguma coisa. Sua frieza me aquece, uma exposição em câmera lenta diante meu campo sem flores. Quero mais uma dose!
Aos poucos vou me dosando, contra o tempo, dentre o pranto, me revendo e me curando. A verdade faz metamorfosear o gosto da bile em raiz de alcaçuz, às vezes pela dor nos faz enxergar, e nossos pés ganham luz. Estou me acostumando com ela. Mais uma dose por favor! Sinto a dopamina cantando e o amor se libertando. Em meu inverso a encontrei e no cais dos versos sinceros e eternos, me atraquei.
Patrícia Campos