A dor da perda

Eis que escorre o mar quando o tempo se encarrega de levar alguém que dizemos amar, porque o amor na realidade não é compreendido e por isto se perde os sentidos e o que era para ser lindo se torna o cair em um precipício, um choro incontido, um peito aflito, um vazio que por vezes nunca é esquecido. Então as lembranças maltratam e os pés não sentem mais forças. As lentes deveriam ser alteradas, talvez se focassem de outro ângulo, se afastassem um pouco mais para se ter uma ótica mais detalhada, talvez pudessem enxergar que não há sentido para chorar porque somos um portal de atravessar planos e podemos seguir vivos longe deste pó que um dia se deita e se torna um com o seu todo. É estranho sentir a dor da perda, pior que isto é se perder, é perder seus sentidos, perder o rumo, perder o tino, e por fim perder a vida. É como ver sua metade se partir e partir, ir e não voltar, é como dar adeus à quem não conheceu e ser a dor mais terrível sentida em seu próprio breu. Dizem amar a vida, mas não a conhecem de fato, porque não se tem vida senão senti-la. É uma pena não conhecê-la, aventurar-se de bobeira sem eira e nem beira, sem erguer a bandeira, branca, alva, porque não há de nenhuma sorte ou maneira não sentir a dor da perda, porque ela chega, sorrateira, a morte não muda sua estrada, ela segue a sua jornada, e mesmo fazendo o seu corte, ela perde para os fortes que conseguem vencê-la, que não se dobram a perda e que vencem com a vida, a vida verdadeira e eterna.

 

Por Patrícia Campos