Fanatismo

A obsessão de um tolo peregrino fez com que seu coração ficasse obstinado ao erro, não se importando com o seu fim, nem cuidadoso com os moradores desta Terra, apenas ditou o que o diabo soprou em seus ouvidos como se fosse uma verdade absoluta, porém se tratava do engano e ele foi enganado, também enganou e não se importou. Tudo isto porque seu desejo era o que valia, nem mesmo a vida o tiraria desta sua sina, vazia, sem rumo e sem guia, apenas ia, e em falta se sentia. Um cabresto e um peso, nada lhe tirava o apresso pela própria armadilha, seus olhos estagnados como que hipnotizados, a artimanha montada e sua boca fechada, em passos de um sonâmbulo indo só ao encontro do nada, tomando aguardente julgando ser água, porque seu paladar se perdeu e não sabia mais o que era doce, então lhe pôs ao pescoço a foice e ainda sorria enganado por sua triste agonia. Quiçá pudesse abrir-se feito janela para que os raios solares o adentrassem como espadas, penetrantes, dissipando o breu deste errante, fazendo-o mudar o seu tino, buscando um novo sentido, tornando-se frio ao engano, mudando a direção de seus pés, lutando por novo plano, o plano B, porque o primeiro não daria certo, um empenho ao destino do inferno, um fim extremo e patético para quem entusiasmou-se com o que era incerto mantendo o engano por perto, um fanatismo evidente, que não cabe à quem é prudente, à quem possui olhos diligentes que se abre para poder seguir em frente, porque este mundo te pende e te prende caso não seja prudente.

 

Patrícia Campos

Tema sugerido por Jeane