O ar abraçou o cheiro doce, tudo em volta coloriu-se com o banquete que preparava, com zelo e calma, para receber o Rei em sua humilde casa, arrumou a mesa para o jantar, acendeu as velas nos candelabros, trouxe as melhores louças e talheres, os melhores copos e xícaras, organizou-se e organizou o ambiente, como nunca antes havia organizado, como nunca antes ousou organizar, e sentiu-se bem, por pouco tempo, em paz, aguardando ansioso, com o sorriso desenhado no rosto. Não percebeu que não estava só, não percebeu quando a porta se abriu e quem entrou não foi quem aguardava, também não percebeu quando as velas se apagaram, o manjar se ressignificou para migalhas, e quando abriu os olhos, com o sorriso pregado na tez, os olhos ardendo pelo tempo passado que não percebeu, estagnou e se esqueceu, não cuidou da mesa que tanto organizou. Quando a porta se abriu novamente, entrou o Rei desta terra, já com a tristeza em mente, não soube como se apresentar, mas então com a voz fraca, disse: “não sei o que houve, mas pode se sentar, ainda tenho os pedaços que deixaram para trás”. Apreesivo e sem saber se explicar, pôs-se a chorar, o Imperador vendo a cena, disse: “eu vi quando as trevas tomaram este lar, onde esteve para não notar?”, o pobre homem respondeu: “estava bem aqui, neste mesmo lugar”. E como já esperando essa resposta, o Rei tocou os olhos do homem, e tudo o que antes era colorido começou a desbotar, e disse: “na verdade, nunca houve nada para mim por aqui, quem vinha e saqueava sua comida eram os cães que cuidou por tanto tempo, eles aparecem quando se perde em si mesmo, e pelo o que percebi, faz tempo que se perdeu nos vales de sua alma, você não pode ficar mais por aqui, estas terras não chegarão mais o calor da manhã, nem mesmo o inverno tocará este solo, apenas o nada terá, pois nada me deu”. Ali, neste momento, sua base cedeu, e rogou para que o ouvisse, juntou em suas mãos o que conseguiu encontrar, migalhas dos bolos, dos doces, do jantar, ajoelhou-se diante o Rei e começou a clamar: “tome, coma, pode ficar, fiz para ti, para o Senhor desfrutar”. O Rei lhe respondeu: “deixo os restos para você, meu grande amigo, que nada mais terá, a não ser as lembranças de um banquete que nunca mais se repetirá”. Fechando a porta atrás de si, sentiu a fraqueza entrar, e ela sussurrou em seu ouvido: “feche os olhos, quer voltar a sonhar?” Mas o mundo dos sonhos não mais o abraçou, porque já havia acabado o tempo que tanto esperou.
Por Luiza