Casulo: de lagarta a borboleta XV

Neste tempo quieto aprendi muito com o silêncio, com o processo, tecendo o amanhã com os passos certos, conhecendo-me como sou por momentos ternos. Sou o curso, a trilha que sigo, rastejante, casa e liberdade, lagarta, casulo e borboleta, sou o caminho e onde me encontro, hoje sou aluno, e tranquei meu coração para o barulho dos confusos. A natureza instruiu-me assim, o solo um dia se torna raso e o céu é meu objetivo, inspirei-me na metamorfose da borboleta, e diferentemente de sua curta existência, não serei o fim, mas a eternidade, e quantas histórias poderei contar para aqueles que também farão parte de mim? Um corpo cósmico de metamorfoses, compartilhado por aqueles que criaram asas e saíram do ninho, nuvem de borboletas azuis que se coloriram com o infinito, um inalcançável tão perto que sinto o cheiro, a textura e o sentimento, carrega paz, leveza e alento. Eu queria já poder voar, mas ainda sou casca presa em algum lugar, sei que este é o caminho a se trilhar, e o tempo se encarrega de trazer o fim desta fase, ser completude, concluído metamorfose, abraçando vida e sendo sua face, suas formas, suas virtudes, para isto é preciso desintegrar-me, deixar-me não ser por uns instantes, para conhecer-me como um novo e poder nascer livre, viva em sua forma mais bela, obra cabal realizada com cautela, sendo cores quentes que alegram a primavera. Só posso ser se vier a frear, calar as vozes que machucam o executar, deixar que o mundo continue girando, enquanto eu estou quieta, desfazendo-me até chegar ao nada, ínfimo pó, quimera, e refazer-me em escalas inimagináveis e intocáveis com esta pequenez atual, mas um dia serei, e até lá apenas ficarei aqui, deste lado da vida, quieta.

 

Por Luiza Campos