Curtindo o mundão

Pela trilha da vida perdeu o freio, tamanho desespero, sem pressentimento, com consentimento, até no pensamento não houve respeito, tudo foi liberado, abriu-se a porteira dos desejos, nada foi posto à prova porque se pode tudo. Estão curtindo o mundão, este mundo cão, destituíram a razão e deram voz ao engano. A noite é uma criança, dizem eles, e saem para brincar assim como as crianças que não temem o perigo. Não há limite, um horizonte sem fim que ao alcançá-lo se depara com um abismo. Tudo se tornou comum, as tragédias viraram novelas, as traições não são ficções, não se conta mais o amor, arriscar a própria vida é aventura. E assim caminham, curtindo o mundão, dizem eles, “caba não mundão”, o mundo não acaba, quem acaba é o pó, o corpo feito de barro, que se deita ao chão assim que a vida se vai, quando ela volta ao Senhor. Curtem o mundo, não curtem a vida, querem a vida para curtirem o mundo, pois sem ela, acaba a festa. O último a sair apaga a luz, dizem eles, mas a luz já está apagada, seus corações andam em trevas e tentam se esconder da morte, mas não terão esta sorte a menos que se acendam a luz da vida, que deixem de curtir o mundo e se adentram, que se encontrem e se confinem e que não saiam de si até chegar a hora de partir, para que não se parta, mas se unifique tornando-se um com a vida, longe deste mundão.

 

Patrícia Campos 🌺

Tema Rejão