Dizem que o amanhã pertence a Deus, mas se ele nunca chega, o que, afinal, lhe pertence? Afogam-se com seus anseios, se esquecem de seus passos, tropeçam em suas palavras, preocupam-se demasiado, e se sufocam com suas dores de um dia que passa como um raio, de anos que se atropelam, que escorrem por seus dedos, correm desavisados em laços maus dados, frouxos, quebráveis, tão frágeis.
O tempo é uma chuva que não cessa, que não se segura, que não controla, uma tempestade de sentimentos que corroem, infiltra-se em seu solo, afoga seu campo, transborda como pranto, desfaz em seu colo e se perde de suas mãos, deixando-o só, olhando para o tempo que passou, e notando, que a tempestade que parecia eterna, cessou, e com ela, toda cor levou. Estranhamente fascinante, o tempo que nos foi dado, mas os olhos estão distantes do momento presenteado, lutam pelo efêmero, que logo, logo murchará, como as folhagens no outono, desbotadas e secas, agarraram-se ao nada, ao falso preenchimento, não se explica como uma grandiosidade se contenta com tanto lamento, vazias, almas rasas, o amanhã é sagrado, mas o hoje encontra-se em desgraça, como explicaria? Ninguém sabe, ninguém viu, essa é a charada do ser mais vil, a serpente sibila quieta, mas leva muitos para seu covil, e é lá que todos perecem, reconhecem que existiu um tempo em que a esperança poderia florescer, porém o instante presente já chega tardio.
Por Luiza