Primeiro não sabia quem era, o que era, porque viera, desconhecia minha tez, o brilho de meus olhos, minhas vontades. Andando a deriva, buscando a mim mesma, não podia ser nada, não aceitava, não descansaria até reconhecer-me, até conhecer-me, até entender-me, e cada canto de mim não seria escuro, mas claro, presente, ouvido e sentido. Um caminho exaustivo, o autodescobrimento, pois não é apenas saber do que gosta ou não gosta, do que quer ou não quer, mas é saber o íntimo, a verdadeira face, os piores sentimentos e as maiores dores, e acima de tudo, cura-los, mas qual a cura para tamanha perda? Depois que meus passos já estavam próximos da primeira pessoa do singular, e vi que havia muita coisa há mudar, o Eu passou a ser conhecido, mas ainda não era o que queria, pois apenas conhecer-me, trouxe o sentimento cru do vazio. Fui em busca de minha cura, pois ao encontrar-me como espelho, parado no canto da sala, com as luzes apagadas refletindo o nada, entendi que não podia ser apenas isso, qual seria minha tez, não podia ter essa agora que carregava, com os olhos pesados, com o sorriso trancado e com a fala embargada, então por isso, fui atrás de mudança, pois não gostei de mim. Nestas andanças pelos vales de minh’alma, fui conhecendo-me mais, porém percebi que não havia fagulha, não havia fogo, não havia centelha, chama, brasa ou luz, poderia eu, ser apenas escuridão? Depois de muito querer, muito buscar e muito tentar, quando cheguei ao campo aberto, no fim de mim, beirando o nada, encontrei ao longe e sorri para a única estrela no céu, brilhava e brilhava, mas estava tão distante que não iluminava, percebi, que era o fim de quem era para o começo do que queria ser. Roguei, roguei para a luz que encontrei, ajoelhei, abaixei os olhos, deitei a cabeça no chão e clamei, busquei a luz em meu coração, para que lumiasse toda escuridão, para que guiasse-me nos vales da perdição, para que me mudasse, trouxesse cor a tanta degradação, e te encontrei. Tu, que estavas tão presente em mim, sempre reluzindo no fim, mas nunca descoberto, hoje ajoelho-me perante ti, com simplicidade e alegria em meu coração, peço que seja minha luz, minha existência e meu Senhor, que adentre minha casa e seja o rosto de meu espelho, os pés de minha alma, a liberdade para minhas asas, peço que nos unamos em um só, assim deixarei de ser eu, deixará de ser tu, e passaremos a ser nós. Percebi então, que no fim, minha busca nunca foi apenas por mim, mas sempre por você, pois é a cura de todo mal, a simetria que faltava, és o Senhor, o Anjo, a vida, és a calmaria que em mim faltava e a segurança que tanto precisava. Agora termino, e deixo a todos essa história, de nossos pronomes vivos que carregamos, mas muitos não conhecem tal trajetória, pois vivem de olhos fechados, o espelho continuará trancado, o “eu” desaparecido, “tu” distante e esquecido, e o “nós” será como ilusão, este é o tempo em que vivemos, onde todos vivem e preferem a escuridão.
Por Luiza
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