É sempre difícil falar de si mesmo, o reflexo das águas, às vezes, não é tão claro, mas se olhar com mais atenção sempre saberá, sempre sabemos quem somos, por vezes só não aceitamos. Queria poder dizer que sou ausente de falhas, queria dizer que já fiz tudo o que precisava para ser alma, poder dizer como Jesus que venceu o mundo ou como Paulo que só aguardava a coroa da justiça e sua liberdade, mas querer não é ser, e muito querer não diz nada se não fazer. Assim como os céus, também não entendo o que houve e o que há aqui dentro, mas sei o caminho a seguir, os passos que trilhei, que precisarei trilhar no porvir, por mais que tudo caia, eu estarei de pé, pois já caiu por vezes e continuo aqui, por isso, meu Senhor, trace sua diretriz por minha tela, e pinte meu interno com suas cores em aquarela, me darei para ser, nas mãos celestes, nas asas do poder. Já transbordou muita amargura de olhos distantes, a vida não espera o conserto dos errantes, é preciso muito mais de mim do que meros instantes, e meu peito aperta, sinto a angústia de não me encontrar como queria, por isso preciso parar de tantos lamentos e começar a agir, desvencilhar do pó que parece pouco, mas pesa os ombros, machuca a alma, corrói os sentidos e enlaça o coração, deixar que tudo desfaça, até as cinzas se assentarem no assoalho, e só assim, poderei refazer-me, em um novo ser, e enfim, poder falar, Eu venci, venci os dias, os tormentos, venci, e agora só aguardar o fim, para que um novo começo, floresça em mim.

Por Luiza

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