Em um solo quieto desabrochou o temporal, cantou em pétalas solitárias o seu ato teatral, toda angústia escorreu em sua pele, como oceano furioso, dançou em céu nublado, declamando seu conto tempestuoso. Nada se ganha, pois nada tem, sem luz ou esperança, feito de refém, à mercê das cinzas, prisioneiro de suas falácias, a fantasia tornou-se verdadeira no momento em que transformou-se no personagem, esqueceu de sua graça, e cada movimento tornou-se pesado e sem personalidade. Máscaras e mascarados, se envolveram demais na peça, e deixaram-se levar pelo teatro, tudo muito bem montado, o sorriso, a alegria, as lástimas, o brilho no olhar, as gargalhadas e as lágrimas, tudo que toca vira falso, e tudo que tem se desfaz pela manhã, nada se eterniza como a vida, mas tudo desfalece ao nascer de um novo dia. Tudo o que vê se dissipará como fumaça, esta mesma que inala, irá corromper de fora para dentro, de dentro para fora, e essa dança se eterniza, como o balé do cisne que se debate até encontrar sua sina, não entende que és grande, e se refaz em pequenas partes, se entende como vazio, e se preenche pelas metades. Passa frio, fome, anda em angústias e não grita, pois poderá atrapalhar a história sem vida, o peito arde e se debulha, transborda lava e se queima, brinca com o perigo e se diverte, só esquece que o fim cobra seu tempo perdido, e não terá mais onde se apegar, os laços todos se mostrarão fracos, e como um fio de cabelo se encontrarão despedaçados. Nada levamos deste mundo, tudo ficará por aqui, desde algo palpável, até coleções de sentimentos vazios, o que se monta pode parecer belo, mas é algo irreal, olhando de longe até um pouco perverso e sem moral, quem enxergar isto certamente entenderá, que é melhor libertar-se hoje, do que ter uma eternidade para se lastimar.
Por Luiza Campos