A centelha sempre esteve lá, mas às vezes parece que a combustão a transforma em brasa viva, que se espalha e baila pelas trevas, trazendo luz ao que sempre esteve em ruínas. Nem sempre a luminescência colore os corações, mas quando permitem, ela faz a arte de suas mãos transbordarem em tela abissal, são poucos, eu digo, que já tiveram seu doce sabor, desde quando o mar conhece a areia, os pássaros o céu, as flores o campo, as neves a colina e os animais seus ciclos, desde quando o mundo é mundo foram poucos que tiveram esse lampejo e se apegaram a ele, como se não houvesse mais nada que lhes desse tanto prazer, e realmente, devo dizer, que não há.
Sua grandiosidade é medida pelo infinito, começou onde ninguém viu e termina onde ninguém pode alcançar, sua forma é indescritível, e quando espelhada pela alma, tornam-se um, uma aliança, um casamento, um lampejo vivo, escorre pelos olhos e transforma o que dantes era lamento em pura alegria, assemelhando-se a beleza das crianças, mas com uma mínima diferença, o entendimento, tudo discerne, pois a consciência alcançou o discernimento, e agora tudo é mais palpável, mais crível, tocou o inimaginável, apossou-se do impossível. Às vezes, aqueles que querem também alimentar as chamas da vida, abraçam o lampejo quando se apresenta, alimentam-se quando aparece, mas dormem quando apaga, como mantê-lo aceso? A questão é, como manter-se acordado? A faísca sempre estará, não importa a hora ou lugar, a menos se ela se apagar, então neste momento não haverá onde ou quando poderá encontrá-la, a não ser nos resquícios das lembranças que a teve, mas nunca a possuiu para si. Não há segredo, nem ao menos tentaram assim fazê-lo, mas aquele que alcança a estrela da manhã brilhará para sempre, sendo mais uma luz nos lençóis infinitos que abraçam o céu.
Por Luiza
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