A obscuridade da noite é como a incerteza do amanhã, pois mesmo carregando o sol na palma da mão se faz lua fria em todas as estações. O coração cardíaco bate descompassado, fora do ritmo da vida, não dança o eterno, não baila com as notas do céu, mas se debate entre as paredes do quarto que aos poucos sufoca e esmaga a alma, correr para quê se um tsunami escurece o oceano? Não vejo o abismo, não controlo meus passos, não sinto quem me abraça, pois não conheço a empatia, ando pelo que aprendi, vivo na caverna dos mortos, sou prisioneira de mim, sou refém das minhas algemas, sou cisterna seca, flor que não vingou, terra perdida que não encontrou o amor. Habito numa Terra sem lei, mas para mim este tempo parece ser normal, não conheço o desconhecido e isso me enferniza dia e noite, pois pensar na morte me causa medo, arrepios e bato até na madeira, mas por que esse medo amedronta minha alma? Por que não estou segura quanto à minha salvação? A noite causa um medo profundo, desorienta a mente, sigo no rumo da minha vida em passos dormentes, visão turva, não sei para onde vou, ou o que estou fazendo aqui, me sinto perdida entre os uivos dos lobos, os gemidos dos leopardos, entre o assovio do vento, dos cantos das corujas, do som dos chocalhos das serpentes, o que esperar da longa madrugada, da noite sem luar, da incerteza do sol raiar, do amanhã sem aurora e do amanhecer sem o céu clarear?
Por Maria Lúcia
Tema sugerido por Luiza