Faz tempo que o sorriso não se encontra com os olhos, e logo cessa ao forçar, como que clamando a alegria, mas ela se recusa a se aproximar. Tom um pouco fosco, tal qual um quadro sem vida, seus olhos pouco mortos, acumulam em si o peso da ravina, não desaba, logo acumula, todo peso e toda dor salgaram em sua tez, fardo desnecessário, mas que por tanto se perder, acabou sendo seu único aliado, pois nem si mesmo está ao seu lado, o que sobrou foram os fantasmas, que rondam e rondam seu estado. Faz tempo que não reconhece seu reflexo, desconhecidos se encarando, refletidos em uma fina película de vidro, quase transparente, quase ausente, até ruir e sobrar os cacos em suas mãos carmim, avermelhar o assoalho vazio, pelo menos na morte haverá cor, diferentemente de toda história que traçou, mas logo essa centelha se apagará e voltará apenas o vazio. Perder de si mesmo é um luto vivo, um luto pelo que não é, pelo que já foi, e pelo que acha que é, um luto por desconhecer-se, alheio a si, alheio a seu entorno, alheio a vida, como se encontrar? Abissal engole sua essência, muitos “ses” e inconsistências, perdeu-se por tantas escolhas rasas, por tantos “mas” e pouca ação, pelas fantasias constantes que tomam sua realidade nas mãos. Encontrar-se seria fácil, se desligasse suas ilusões e calasse seus sonhos, se parasse, ouvisse, aquietasse, se de fato sentisse, sentisse a grandiosidade que lhe habita, o que é, onde está, encontraria muitas respostas perdidas, que hoje, são apenas fábulas. Não era para ser assim, esse vazio, essa angústia, há muito mais que não vemos, muito mais do que queremos, há o propósito vivo, que estabeleceu a lei do infinito, desde o vácuo até o lírio mais bonito, e nós nos preocupando com o que seremos amanhã, se nem mesmo o hoje sabemos quem somos, está na hora de parar para se encontrar, pois um dia virá o fim, e onde, neste dia, em meio todo o universo, você estará?
Por Luiza
Tema Kátia



