Roleta russa

Mais um, um compasso, uma nota, um funeral, uma dor, despedida, um tchau, mais um que se foi e que não olhará para trás, mais um que deixou a roleta rodar e não buscou a paz. Na mira afiada, o pescoço na navalha, cada tentativa uma lágrima, despertador das mágoas, desperta dor, desespera o ardor, vira de ponta cabeça e não alcança o amor, um nó mal feito salvou o enforcamento, um pente vazio estende o tempo, meio segundo antes não teria sido assim, mas ninguém sabe o caminho do vento, uma hora ele abraça e na outra dita seu fim. Uma vida dissoluta encontra o luto, depois de perder tudo buscaria resoluto, mas depois de cair a última gota seus pulmões já murcharam, florescerá na escuridão como todas as rosas que se desencontraram, a saída teria para aqueles que a buscarem, entretanto nessa roda sem fim são poucos os que se salvaram. Mar carmesim de uma geração rasa, sangram por não terem nada, não há conteúdo, alma de migalhas, não se calam, mas não somam, falam, falam, sem um conto, e assim esperam sua vez, na fila do precipício escancarando sua nudez, será eu agora? Talvez. Solidão não está mais só, acompanha a escuridão de cada um, apegaram-se ao pó, destinados sem nem ao menos perceberem, querem tanto infringir as regras, mas este é um rumo fácil quando floresceu no pé, uma raiz profunda, um sentimento frio, contentaram-se em vencer a luta, mas mesmo assim ficaram vazios. Roleta russa, dispara e assusta, mente turva, a história confusa, o tempo não para, mas ele acaba, quem muito espera o cão latir, no fim se encontrará desarmada.

 

Por Luiza Campos