Vida medíocre

Ao refletir-se, notou em seu sorriso uma rachadura, breve, quase imperceptível, mas aos olhos atentos era claro como a luz do dia. Achava que era necessário manter-se assim, essa máscara do início ao fim, mas não percebia que quanto mais o fazia, mais longe ficava de si, como uma maldição, ou melhor, a lei imposta ao coração, foge, foge, foge, mas sempre será o mesmo, seja em luz ou em escuridão. Nestas andanças e voltas que deu sobre si mesmo, notou isto, e quase, quase se maravilhou, mas para cumprir com o preceito do quase, deixou minguar este sentimento, e voltou a estampar um sorriso na tez que não chegava a alma, escorrendo sobre seus dedos a leveza da verdade e a bondade da alva. Como explicar que preferem a dor dos espinhos do que a liberdade dos girassóis? Como entender o porquê não formam casulo, mas preferem viver se lamentando pelo chão? Não há respostas para tais pensamentos, e nem saída para este labirinto que criaram os tormentos, na verdade a saída seria a vida, mas raras são as almas vagantes que se entregam a ela, e a deixa fazer seu papel como bússola do coração. Preferem, em todas as formas, de todos os jeitos e em cada tristeza, essa vida medíocre, vazia, infame, nos abraços da vergonha, e no reflexo da nudez está a coitada que escondeu a tez, e esqueceu de si mesma outra vez.

 

Por Luiza

Tema sugerido por Milena