O meu povo perece por falta de entendimento. Os ladrões da meia noite os levaram cativos, são prisioneiros dentro da própria escuridão, os mercadores de escravos roubaram a liberdade dos meus e a madrugada serena os açoita debaixo do clarear da lua, de longe se ouvem os gemidos, os ais, as lamentações, os sons das correntes produzem a melodia do desespero, das dores, do choro dos oprimidos, não sei onde eu errei para ser tão rejeitado, cospem no meu prato, abominam o bem que os preparei, fizeram da minha casa um lugar onde nem os porcos gostariam de viver, destruíram a minha herança, construíram na terra altares e ali fazem orgias e todo tipo de abominações, me desdenham, me desrespeitam, me traem, sou apunhalado pela desobediência do meu povo e quanto mais se afastam de mim, mais se destroem, até aqueles que um dia provaram do meu pão, que beberam da minha fonte, que reconheceram meu nome e minha vontade, vomitaram e retrocederam para trás, a mim me deixaram mesmo testificando que Eu Sou.
Sou apunhalado pela ignorância dos insensatos, pela falta de fé dos sensatos, o crer dos que dizem me ter no altar é como chuva serôdia, logo passa, pois é só esquentar o tempo que arregam, são corações de pouca fé, não são destemidos, determinados, são maliciosos e me agridem de todas as formas, não amam como eu amo, não enxergam como eu enxergo, não sentem como eu sinto, Eu sou a riqueza que os loucos não compreendem, Sou o tesouro dos compreensíveis, mas que não me dão valor, sou o invisível que as crianças veem, mas não compreendem, os velhos que compreendem, mas não me veem, assim Eu Sou e serei, virão outras épocas, outras gerações e continuarei sendo o Eu Sou, glorificado por alguns e martirizado por muitos, assim Sou eternamente dentro do infinito aos olhos dos que me reconhecem e até mesmo dos que não me reconhecerão.
Por Maria Lúcia