Casulo: de lagarta a borboleta IX

Ao caminhar lentamente rastejando-se pelo chão, busca ter sensibilidade do que é libertação, porque é acreditável a transformação de ser, sempre buscando uma melhor, de lagarta à borboleta, do rastejar ao encontro com a liberdade pelas asas da sabedoria. Então se fecha, pega seu arco e sua flecha, tapa as brechas e se acerta. A quietude toma conta para que faça barulho do lado de dentro até que haja a transformação diante o espelho, uma casa sensível, uma casca que se trinca, rasgando-se de fora a fora, mas antes que isto aconteça, tão dolorosamente se sente mergulhado em sopa quente, transfigurando seu corpo, deixando de ser morno, morto, vulcanizado ao pó, o que era rastejante, buscou ser outro, outro ser, o que vive, transformado pela vida, buscando ser eterno em asas incolores, mas que transbordam cores. E por um breve momento se fecha para que sinta sua transformação, onde o silêncio arde, a quietude faz alarde, onde o escorrer do mar faz parte, e então se parte, ao meio, aos poucos vai se derretendo, como as gotas de um alambique, para que sua essência prevaleça e permaneça de forma doce transformando suas asas em asas perenes para que voe pela eternidade fazendo com que sua estrada seja o céu, onde fará seu percurso infinito e nunca mais terá que se partir ou partir, porque encontrará o seu lugar eterno junto ao seu eterno corpo, e mesmo que lhe reste algumas pequenas lembranças em sua memória de que um dia sentiu o peso do rastejar e do pó emaranhado aos seus pés, teve o prazer de se confinar em seu casulo, de fortifica-lo para que pudesse passar pelo processo da sua transformação, mesmo sendo casa sensível, sabia que haveria de se trincar para ganhar asas, que mesmo que estas fossem incolores ganhariam o céu, e assim o fez cumprindo sua metamorfose.

 

Por Patrícia Campos