Talvez seja melhor que escorra até que não reste sequer uma gota, que se derrame a escarlata para que me renove em vida, uma vida verdadeira, sem delongas, não que eu seja imediatista, mas é que o tempo anda tão apressado que uma hora não será mais contado. Talvez eu queira estancar a dor a qual escorre pelos meus poros feitos suor, talvez eu não esteja sendo sábia o suficiente para me tornar sóbria, mesmo tendo desejado ser. Não desejo muito, mas sonho em ser imortal e isto não está fora do meu alcance, embora minhas mãos pareçam não alcançarem quase nada. Eu sei que a mão eterna está tentando estancar o sangramento das minhas feridas, mas é justo que escorra o sangue, não há vitória sem sacrifício. É preciso sentir o escoar, ouvir o gotejar, deixar fluir assim como os rios que correm para o mar, porque as águas doces sempre se encontram com as salgadas e isso é a pororoca da vida, que une as águas para que seja libertada uma alma. Um encontro das correntes fluviais que quebram correntes, que trazem a liberdade. Que caiam sobre minhas feridas as águas puras da forma que se devem cair, que minha alma as absorvam para que de fato me torne alma, pura, me transformando num filtro purificador de mim. Quero ser as estradas destas águas e não suas curvas onde se acumulam os destroços. Não quero estancar o sangramento, apenas quero que não sangre mais, de forma natural, compreendida, em simetria com a minha vida, esta que está aqui me deixando digitar estas tão simples palavras.
Por Patrícia Campos
Tema sugerido por Lucinha