Contando flagelos

Os números se perderam, não por estarem no infinito, mas é que não há como conta-los, perdeu-se a conta, as dores infindáveis parecem fazer parte do todo. Calamidades se tornaram estradas onde os transeuntes passam e nem percebem onde estão seus pés. As tragédias não são mais infortúnios, são apenas mais uma história com um fim trágico comum. As faces não se assustam mais, a angústia já não é mais visita, não existe mais tortura moral porque esta nunca mais se encontrou. A ansiedade é uma extensão do medo, como se fosse o botão do volume em seu estado mais alto. Estão em transe e a aflição faz parte da rotina. As almas estão feridas por açoites incontáveis, se auto mutilam deixando cicatrizes profundas. O pior dos flagelos é a condenação eterna da alma, além de não se encontrarem aqui, vão continuar perdidas na eternidade. Se contentam com migalhas na esperança de um sorriso, são como as folhas carregadas pelos ventos e anestesiados vão para qualquer canto, quiçá por um breve momento consigam parar em algum lugar, não que faça diferença, mas talvez seja um momento de descanso, porque não sabem mais o que é ter paz. Contando flagelos se encontram cantando seus próprios flagelos como se fosse uma música de uma nota só, dó, uma batida contínua sem rima e sem clima, parece ser sina, e ainda por cima se perde da vida, a única saída para sair desta fila infinda.

 

Por Patrícia Campos

 

Tema sugerido por Milena