A princípio não via a luz, minhas ideias eram torpes, minha mente era invertida e colocava as minhas esperanças em um nada totalmente desconhecido, pensava que já tinha ganho a vida, que era só me adequar dentro das leis dos enganadores que tudo ficaria bem, mas verdade é que eu vivia uma fantasia, ilusão criada por cegos, mudos, aleijados, aproveitadores, um mundo que os senhores escravizam as almas, um mundo que parece que a esperança não existe, um mundo que olho e vejo tudo destruído, um mundo que um redemoinho passou e devastou uma grande lavoura, um mundo em preto e branco, sem cores vivas, ferventes, um verdadeiro cemitério de mortos, e o que ainda me alegra é ver as maravilhas de Deus, as leis posta por Deus para tudo girar em sincronia, a base do mundo que é a vida, pois é a ação da vida que move e dá cor ao infinito e neste vale sombrio eu também habitava, mas um milagre inesperado me aconteceu, um raio de sol vi raiar a quilômetros de mim, não enxergava direito, mas Deus me deu olhos e asas de águia para ver e voar até o sol que brilhava, caminhei na direção do Sul e mesmo com pés sujos andei sem parar, pois queria ver o que estava me impulsionando até a montanha onde o sol me acenava, eu queria chegar perto de seus raios para ver o que as árvores escondiam de meus olhos e o meu querer foi mais forte que os galhos que cobriam meu coração, pois cheguei ao cume da montanha e enxerguei o que estava por detrás das nuvens, vi a vida brilhar, vi a mão de Deus erguida como um farol iluminado, vi a chuva cair, as gotas me banhando e Deus me batizando com amor, lavou os meus pés e vi que daquele dia em diante meus rastros eram outros, meu caminho, minha vida, minha gente, meu lugar. Meu Pai me mostrou o caminho de casa e é nesta âncora que tenho que me firmar, hoje vejo alguns rastros bons e ruins de meu caminho, vejo também que para chegar ao céu preciso ter força, coragem, decisão, pois a travessia é longa e tenho que atravessar o mar de barquinho, remando dia e noite, e neste oceano não se deixa rastros, mas uma história vivida, sentida, cheia de sentimentos vívidos, como a luz da vida que ninguém pode apagar dentro de um peito que reviveu entre os mortos e que segue remando, quem sabe eu não seja levada pela carruagem dos anjos até às estrelas onde habita os santos de Deus, mas tenho que remar, remar e remar, até a minha casca sumir no meio das águas deste profundo oceano.
Por Maria Lúcia
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