A ausência da luz fez com que seus pés não conhecessem caminho algum, nem mesmo o caminho que percorria. Vagueava por entre as ruas do seu próprio coração e não conseguia chegar a lugar nenhum. Por entre os becos escuros da sua noite não conseguia contemplar nem mesmo a lua, sua luz escassa não reluzia, e em suas manhãs não havia sol para lhe aquecer, mesmo que ele quisesse trazer seu calor você virava-lhe as costas no intuito de menosprezá-lo e isso causava mal a si mesmo, não no seu consciente, porque ninguém lhe causa mal conscientemente. Mesmo aquilo que não lhe prospera, você não faz julgando que aquilo vá lhe trazer algum mal, antes pelo contrário.
É incrivelmente estranho você tomar atitudes sempre querendo se beneficiar de alguma forma e muitas vezes acarreta em si tempestades impetuosas difíceis de controlar não lhe deixando no lugar, tornando-te totalmente instável, sem rumo, sem tino. Clamaste pela luz difusa, e viraste sombra, antes fosse sombra em sinônimo de refresco, mas não, fostes cada vez mais se esquivando da luz perene. Fazendo escuridão o seu redor, que por onde passa escurece a estrada. Tornaste profundo, um profundo abismo onde não tem fim. Um abismo onde tudo que se joga nele, não escuta cair ao chão, porque ficaste sem chão, porque não há pó que permaneça, nem sequer pedras sobre pedras num abismo sem fim, apenas um buraco no vácuo dentro de uma alma triste que não buscou se perpetuar na luz.
Não é que você vai cair no abismo, você vai se tornar o próprio abismo. Um lugar frio porque não acolheste teu sol, não te cobriste do manto, desejou tudo o que era fugaz, não se importou com seu pranto, e assim, quando a vida lhe deixar, se hibernará em seu alcatraz.
Patrícia Campos