Viver de verdade

Viver não deveria ser difícil, um caminho natural para qualquer ser com vida, mas de alguma forma tudo se arrasta como carnes mortas, sem cor, sem esperança, sem brio. A corda já está enlaçada no pescoço e cada dia cinzento o laço aperta mais o peito, e ainda em vida sente as dores de uma alma perdida, desgovernou-se durante toda a vida, saiu dos trilhos eternos, descarrilhou nos becos sem saída e em pedaços respira os cacos de um corpo ferido. Viver de verdade está longe do que se vê, é se entregar ao precipício sabendo que o céu o abraçará, espelho quebrado conta muitas histórias falhas, mas a vida conserta, completa e afaga, ensina ter prazer na justiça, direciona os pés enganados na diretriz da verdade para encontrar os seus. Tudo está tão perto e ao mesmo tempo está longe, entendimento da sabedoria de Deus não há, tudo são trevas, é um círculo rotineiro mundano que enlouquece até os inocentes e cada qual acredita no que lhe convém, nada é verdade, a vivência é doentia, olhos banhados em negrume e o medo da morte testifica o romper lento da linha da vida, das íris do coração, isto é prisão e não liberdade. Viver em seu todo é ser livre, saber que a vida não lhe coíbe, bailando com as vozes sinceras, descobrindo-se, mas nestas águas turvas e vazias encontramos apenas dor e melancolia, um arrastar, como lagartas que não querem metamorfosear. Não deve engaiolar-se, voe, cante a serenata do amor, a liberdade viva da vida, aprecie a luz que em ti acendeu, o anjo alado que seus olhos reconheceu, acorde, levante para o nascer da temperança, o dia ainda raia, pois enquanto há brilho no céu, há esperança para colorir toda tela, viva de verdade a vida, sinta-se dentro do infinito tocando as galáxias eternas, sentindo o fio da navalha deslizando no laço que a liga nos dois planos sem medo e deixe os mortos para trás, mas viva longe do caos, longe da dor, e se aproxime de si, encontre a paz, e se aconchegue nos braços do seu senhor, apenas assim viverá enlaçada com a liberdade.

Somando nossas luzes

Por Luiza e Maria Lúcia

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