A natureza da morte

Sem afeto, no canto da sala, passam com os olhos fechados, não querendo vê-la, seu nome assusta e é expelido com três toques na madeira, o que era para ser chave tornou-se cadeado, o que era para ser glória fizeram miséria, e sua misericórdia inexistente passa de largo, toca quem haver de ser tocado, e chama quem há de chamar. Não se importa com nome, sobrenome, ligações ou despedidas, ceifeiro dos céus, soa por onde haver de soar, não se importa com idade, se viveu ou deixou de viver, se entendeu ou não o que deveria fazer, apenas é o que é, e nada pode mudar. A natureza de seus traços é aquilo que criou em vida, se seu castelo for de areia sua tez virá como escuridão, cobrirá sua lua sem hesitar, trará o nada para o seu coração, e deixará solitário seu infinito, mas se a vida ganhou seus olhos, suas mãos não tocam sua alma, suas mãos só alcançam matéria, libertando suas asas para voar para longe, bem longe daqui, de toda dor deste mundo, de toda angústia, abrindo as portas da eternidade. Não se assuste com seu nome, é tão natural quanto a luz da manhã, enquanto muitos chegam agora, milhares se despedem todos os dias, a tristeza só recai naqueles que morreram antes de esfriar a carne, que perderam as esperanças antes de tentarem, que esqueceram que ainda viviam, mas em um momento parecia tarde, tarde para mudar, para renovar, para plantar, para crescer, sendo que nunca é tarde enquanto ainda puder viver. O mundo acostumou a chorar quando o pó volta para o que é seu, o mundo esqueceu que é pequeno, o mundo abraçou histórias infundadas e se contentou com o breu, o mundo ficou vazio, pois não se preencheu, o mundo é sua alma solitária que ainda não entendeu, um dia o que é luminescente murchará em seu coração, e o mundo que tanto ama passará como fumaça, o que importava de verdade desconheceu, o que fará sem poder de ação? Nada, pois nada enxergou para ser teu, riquezas acabam, laços mundanos acabam, sorrisos passam, momentos se apagam, mas o fogo da vida permanece para aqueles que o alimentarem, viva o que tem e se preencha enquanto tem, seja luz, para quando as trevas se achegarem transcender como tal, e não cair como as folhas secas, mas voar como os pássaros.

 

Por Luiza Campos

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