Espelho, espelho meu XI

Mesmo que a noite se apague por completo, o silêncio grite e suas fantasias se tornem carne, o que abraçam as águas do rio não deixará de ser sua tez, sua história, seus pedaços. Mentir para si é um ato falho, sonhando acordado, correndo parado, ao clamar como em conto encantado, encontra-se em cacos vazios, vestindo tom frio, de um tempo sem brio. Espelho, espelho meu, dizia, e nada respondia, pois no fundo já sabia que era quem via a resposta esquecida, o reflexo não lhe satisfazia, pois dele nada tinha, era além de algo morto, mas por um acaso se esquecia, era além de um sorriso torto, entretanto era nele que se escondia, era além e não queria, mas o porquê ninguém sabia. Sentia um desconforto, muito exposto, quase nu, só havia um fino lençol que lhe sufocava, nada muito profundo, um sentimento cru, de vez em quando buscava afago, porém, nos braços errados. Espelho, espelho eu, sou teu, sou eu, sou meu, sei o que quero, para quê venho, e o que espero, todos são assim, mas por pequenas falhas afundam-se em abissal sem fim. No canto do peito, ventre é lar, mas assim como solo infértil nada pode vingar, se o reflexo enlaça luar, como se luz fosse sua para lumiar, sua trágica moral será definida pelos passos que contar, e quando canta em silêncio qual harmonia vem te acompanhar? Ninguém sabe de ti, ninguém sabe de outrem, ninguém sabe de mim, sabemos de nós singularmente, e ao traçar linhas do tempo nas raízes do coração se entende, e mesmo que teus lábios proferirem felicidade, apenas seu espelho saberá seus sentimentos, os olhos vão empobrecendo da verdade na medida que vai se enriquecendo da mentira, e quando sorri não chega mais aos olhos, pois nada disto se encontra neles, até quando tentará se enganar? Pois sabe que ao clamar sua realidade, tudo ao seu redor desmoronará.

 

Por Luiza Campos

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