Cheiro de esterco, cheiro da terra, caboclo do mato, sujeito caipira, alma lavada, Espírito faceiro, cabra da roça, ligeiro com a foice, trabalho pesado, homem do campo, chapéu de palha, calça rasgada e bota apertada, e lá vai ele com o seu pangaré estrada afora, sem nenhuma pretensão com esta vida do mundo. Pobre das donzelas que tem alguma pretensão com o tal, ele veio ao mundo, mas não é daqui, é um forasteiro da vida, foi jogado do céu e caiu neste planeta por engano, hoje ele vive por aí jogado pelos cantos. Um de quem todos lhe viraram o rosto, muitos o matam por não considerá-lo. Eu o vejo no canto de cada esquina, batendo as portas, mas ninguém sai para lhe dar um pão, tomou as dores de todos sobre os seus ombros por não considerá-lo. Eu o vejo por todos os lados, mas de boca fechada, não sai nenhuma palavra da sua boca, tem o apelido de simprão, como o homem da caverna. Viver no mundo assim é melhor ir embora, às vezes, eu até me pergunto, o que estou fazendo aqui? O mundo anda em caos, todos se batem pelo meio da rua, se atropelam pelas praças, não, não é neste mundo que deveria vir, vir aqui para ser ignorado? Eu me sinto invisível, parece que eu tenho a cor do pecado, ninguém toca em mim, eu falo comigo mesmo o tempo todo, ninguém busca dialogar comigo, eu vou embora, sim vou embora para sempre, nunca mais quero voltar aqui de novo. Ouvi falar de mim, mas só ouvi, gritam, esbravejam, chegam até a loucura, mas na hora do vamos ver, todos me viram as costas. Estou perdido neste mundo, sem pai, sem família, sem nenhum amigo para conversar. Eu tive um sonho, sim, eu tive um sonho, mas acordei do meu sonho e esqueci, mas só sei que sonhei que eu era o sonho das pessoas, mas quando elas sonhavam eu ia embora assim que elas acordavam. Eu sou assim, não vivo na realidade das pessoas, mas só nos sonhos delas, um sonho de vida, um sonho de dias melhores, mas passou a noite e acordou, o sonho esqueceu. Eu queria viver na realidade de cada um, mas a real é outra coisa, um tal de fulano, de sicrano e de beltrano, eu estou nas rodas dos bêbados, de quem não tem mais nada neste mundo. Eu vou embora daqui, sim vou embora daqui para todo sempre, nunca mais se ouvirá falar de mim.
Por O teu espírito diz