Viver, não entendia sua forma, seu encaixe, suas normas, no raso cantarolava sua essência, é incrível, dizia, para quem estava na areia, sentir as ondas afagarem os pés, a brisa nos cabelos, a maresia no ar, é incrível, mas raso, era grandioso para quem havia começado. Hoje eu olho para a beira e já entendi, viver assim é se afogar no fim, sem mudança, sem profundidade, se me conheço? Acho que sei sobre mim, mas achar está confuso na mente que quer entender sobre si. Viver, não entendia sua forma, seu encaixe, suas normas, mas então resolvi ir um pouco além, talvez se a água abraçar minha cintura eu poderia entender, se talvez ela fosse um pouco mais profunda poderia sentir, embriaguei-me da coragem e parti, mas ao meio, por depois de algum tempo notar que aqui era semelhante ao que havia ali, e talvez não encontrei ainda o que poderia porvir, meus limites pouco testados, e minha guerra mal havia começado. Resolvi fluir, flutuar como pena ao vento, deixar que o céu me abrace assim como o oceano, e conforme fui notei que as águas estavam furiosas, e o céu havia se acinzentado, aquarela não estava mais majestosa, e os laços haviam se apertado, em um susto resolvi pôr os pés no chão, mas já não encontrara sua tez, nadar contra a correnteza não funcionaria, o jeito era vencer o medo e deixar que os segredos de minha alma inundassem o meu ser. O mar engoliu-me, como se não fosse nada, o céu escorria em cacos finos, e o oceano era frio, sombrio como becos escuros, ali encontrei-me, com a cabeça sobre os joelhos e os olhos perdidos, o raso nunca me envolveu, mas o fingimento vem para haver riso, talvez sempre estive aqui, agachada e sem ar, águas cobrem meu ser, e meus pulmões já não funcionam, como florescer? A chave vive na determinação, a força se aconchega quando Eu Sou lumiar escuridão, já passou da hora de brotar, as pétalas um dia caem, primavera um dia murcha, por isso não irei descansar, mesmo que faltar-me ar. Viver, não entendia sua forma, seu encaixe, suas normas, mas hoje entendo seu conto, e para viver terei que sê-la, para enfim nascer.
Por Luiza Campos