Fonte de água viva IX

As águas límpidas do céu escorreram por meu monte, minha terra esturricada mesmo não sendo tocada pelo sol tinha aparência de morte, porque não se pode ter vida onde o verbo não consegue agir. Minha boca sedenta, desejando ao menos uma gota para que reanimasse minha esperança e os ventos tinham ido embora para não me refrescar de forma alguma, era uma estratégia combinada pelos anjos para que no meu fundo do poço pudesse minar a cristalização dos sentidos eternos, e assim pudesse ter fôlego para revigorar o restolho de alma que ainda cabia em mim. Entre as águas doces a pororoca acontecia, eram minhas dores unidas a minha expectativa de metamorfose, quiçá pudesse sair de tal estado e poder mergulhar na fonte de água viva, e ficar à espera do queimar, assim como reverberam as águas vivas dos mares. Tanto o oásis quanto o deserto se encontram no mesmo lugar, dentro de nós e a mesma água que lava, se não houver o amor se torna pedra, bruta, que faz tropeçar. Mesmo em meio ao desamor, ouço o som do meu Itororó o qual quer se formar cascata, uma queda d’água sem limites, no meu âmago, a fim de tornar-se um salto, transbordante de águas límpidas para que arraste todo o mal que coube neste lugar, o qual pode tornar-se santo.

Sim, eu quero, quero ser tocada por estas águas e que eu as toque também, porque o que sai da boca é o que se alimenta o coração e o que entra, deve ser o que mata a fome e a sede da alma, caso contrário é a vaidade mascarada de engano que não deixa com que seus pés sejam limpos por estas mesmas águas para caminhar livremente no plano do Senhor.

 

Por Patrícia Campos

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