Imobilidade mórbida

Paralisia do sono, não acorda, está na corda, bamba, um samba que não se dança, mas dança. Os olhos reagem, mas não há força, a garganta parece muda, nada muda. Na maca a marca da dor não sentida, história de morte vivida, triste fim da despedida. Quem se foi? Eu quem vou! Tentei voltar os ponteiros, para cuidar do leite, mas quando cheguei ainda estava derramado, não que eu não tenha voltado a tempo, ou o suficiente, mas é que o tempo se foi de nós. Só me restou a mim, é preciso cuidar de mim. Parece que não há ponto abaixo da interrogação, está faltando algo para dar continuação, nem mesmo as reticências estão indicando continuidade. Antes os trovões vinham me visitar, e mesmo que suas vozes estremeciam meu coração, eu sentia do céu a indicação, agora está tudo tão silencioso, não ouço nem mesmo as batidas da vida, os ventos esfriaram a espinha dorsal e o corpo não consegue se mover. Quem há de vencer? Quem há de viver? Eu não vou perder, e nem me perder. Quiçá os trovões voltem a me visitarem e eu possa ouvi-los de forma doce, porque mesmo que suas vozes estremeçam esta minha terra, seu soar me faz sentir viva, cuidada. Eu aguardo o tempo do céu. Como queria sonhar, não como os loucos, mas encontrar os pontos abaixo das interrogações junto as respostas que o céu tem a me falar.

 

Por Patrícia Campos

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