Muro das lamentações

Amanheceu o dia, o céu floresceu infinito, os campos coloriram, os passarinhos voltaram a cantar, e mais uma vez a beleza divina nasceu para mais um dia, mais um pedaço de nossa história, mais escolhas, mas também mais lamentações. O céu chove suas mágoas, as flores murcham, os pássaros se calam e o dia esvanece como qualquer outro, uma história sem fim, lamentações sem chão, um tempo ruim, um triste coração. Poderia ser algo incomum, mas este enredo corre por todo peito, acordam já olhando o céu e cantarolam suas lamúrias, pesam seus ombros com suas próprias palavras, suas feridas saem de suas bocas, uma faca afiada, uma espada sem rumo, corta seu coração ao invés do inimigo. Corre o tempo sem rumo, escutando os clamores perdidos, parecia já ter dado a sentença de cada um, mas por ser tão comum já fizeram desta Terra seus vazios, e pranteiam como se não houvesse lágrimas, e gritam como se não houvesse voz, e se desculpam como se não houvesse volta, mas ainda há esperança, mas até mesmo ela já não se tem.

Construíram este muro por muito tempo, e hoje a visão já não alcança seu fim, tijolo por tijolo, lamento por lamento, cada choro sem um tino veio parar aqui, cada grito desesperado, fala embargada, cada desgraça e cada laço desfeito, construiu esta barreira, nem mesmo o céu alcança quem está do lado de lá, nem eles mesmos sabem onde estão, e porquê estão. Pedaços jogados, cacos despedaçados, são espelhos quebrados em falas vazias, são orações esquecidas em pedidos mórbidos, onde está a vida? Até mesmo ela desistiu de tudo isto, só espera sua hora chegar para poder voltar para sua casa, para seu lar, pois aqui, infelizmente, não é, e está muito longe de ser. Enquanto escrevia estes versos, este muro cresceu mais um pouco, o dia se findou de novo, e só esperam mais um raiar para novamente poderem se lamentar.

 

Por Luiza Campos

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