Sob minhas mãos enxergava o vapor parado, parado nos contos do passado, enquanto tocava o tempo quebrado, não mais sentido ou doído, mas deixado de lado, já houve carmesim em suas marcas, mas hoje fez-se lembrança trincada em memórias. Muito fácil se faz machucar um coração amargurado, como trincar uma xícara de porcelana, que por mais forte que pareça é tão frágil quanto um papel molhado. O tempo não cura e não muda, ele faz passar e ajuda, e o costume de ter não mais uma nova cicatriz deixa mais fácil para olhar-se no espelho. O que temos nessa vida se não pedaços deixados? O mundo nos oferece seus trágicos ponteiros, que de caco em caco se monta uma parcela do espelho, quem poderia tornar-se inteiro com uma falha sensação de completude? O fim do dia abraça meus pensamentos, concordando com meu voar, encontremos então um relento, para podermos descansar. Bata asas passarinho para que por fim possa enxergar, o crepúsculo já vem avisando, que muito longe, aos pedaços não se pode chegar. Sou xícara trincada, mas ainda não me encontro aos cacos, de passo em passo se constrói a trajetória desta jornada, para que monte de cor em cor toda a beleza deste quadro, pintado a aquarela, o arco-íris desta paisagem, sendo sutil e bela, toda delicadeza desta arte, que molda a grandiosa e viva escultura que se completa com a eternidade. Que complete o peito e transborde de vida, que acolha o ventre um novo broto, que tudo se dê com muita sabedoria e tudo se torne um cântico para o renovo, e que não tenha mais peitos machucados, todavia todos com a cura nas mãos, tendo no rosto as marcas de um soldado, que ganhara sua história na batalha contra a escuridão.
Por Luiza Campos