A caminho da forca

– Grande essa fila, não acha? – O ouvi falar, e sua voz que parecia longínqua estava logo atrás de mim – Sim, está – Respondi, mesmo não querendo conversar! – Você está aqui há quanto tempo? – Perguntou-me, e eu não sabia como entrei, como fiquei, e nem porquê continuei – Faz um tempo – e neste momento, parei e pensei, faz bastante tempo, mas por quê? – Conhece alguém daqui? – Disse-me, olhei em volta, vi semblantes que não me eram distantes, mas nenhum conheço. O sino tocou, mais um passo, e toda a fila se movimentou, mas quem proseava comigo, estranhamente não estava atrás de mim como imaginei, mas estava bem ao meu lado, quebrando um ciclo e uma reta sem fim, mesmo que não queria conversar, perguntei: “O que está fazendo?” E ele me disse: “estou esperando sua hora chegar”. Arrepios, arrepiei-me como se o frio viesse de dentro de mim, congelei, congelei-me no tempo sem fim

– Ora, você não seria o ceifeiro! – Afirmei – não seria, porque não o sou, mas seria aquele que pulsa o que ainda não se findou – Sua metáfora não entendi, pensei, pensei, e como poderia ser? Será ele o senhor? – És minha vida? Por isso continuo nesta fila? – Ele parou, me olhou e continuou – Você poderia sair desta fila, sabia? Entretanto, nunca tentou, assim como todos os outros, só mais um, nada incomum, nem nunca se questionou. São como irracionais, presos ao vento, são como os animais, esperando acabar o tempo, questiono-me o porquê, e nunca soube responder, infelizmente são como as reses que não buscam por um outro amanhecer, seus destinos já os conformaram, e eu olho de longe, o semblante de seres parados, esquecidos e abraçados pelo pecado.

Você, que me notou, saberia responder? – Eu logo vi que não saberia, e meu corpo estremeceu, sou o desprezo, menosprezei o ser meu, quem sou para que o faça? Nada, não sou nada, aceitei o tino da estrada, como correnteza vi-me assim, nesta jornada, então o respondi: “não saberia dizer, mas sei que hoje vi, o tempo não corre por aqui, só esperamos mais um passo para poder seguir, e no fim, quem sabe o que se encontra, talvez a paz, talvez um novo porvir, mas no fundo sabemos que é a forca esperando nosso chão ruir. E seguimos, como as folhas no vento, somos as águas do oceano que vão pela correnteza ao relento, um pássaro preso em uma gaiola sem cadeado, um nó que ainda não fora dado. Como posso voar? “Vi em sua tez que não esperava por isso, e me respondeu com sua maior simplicidade: “É só parar de rastejar”.

 

Por Luiza Campos

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